FORTALECENDO O COMBATE À TUBERCULOSE NO RIO DE JANEIRO POR MEIO DE DADOS, COLABORAÇÃO E INOVAÇÃO


A tuberculose (TB) permanece como um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil, especialmente no estado do Rio de Janeiro. Apesar de ser uma doença prevenível e curável, a TB continua afetando de forma desproporcional populações vulneráveis, como pessoas em situação de pobreza, população carcerária, pessoas em situação de rua e aquelas vivendo com HIV.


No Estado do Rio de Janeiro (ERJ), a situação se agrava devido a fatores estruturais, como a elevada densidade populacional, as desigualdades sociais e as condições precárias de moradia que favorecem a transmissão do Mycobacterium tuberculosis. Com taxas de incidência e mortalidade superiores à média nacional, o ERJ enfrenta obstáculos distintos no controle e prevenção da doença. Nesse contexto, a vigilância epidemiológica tem papel central, fornecendo dados essenciais para o monitoramento e a tomada de decisão. A análise contínua desses dados permite direcionar ações mais eficazes e atender melhor as populações mais vulneráveis, reduzindo a disseminação da doença e seus impactos na saúde pública.


A edição especial da REPIS (Revista Educação, Pesquisa e Informação em Saúde) 2025 dedica-se integralmente ao tema, reunindo estudos que exploram estratégias inovadoras e políticas públicas voltadas para o controle e a eliminação da TB, especialmente no estado do Rio de Janeiro. Os artigos apresentados destacam os esforços multifacetados para combater a TB, enfatizando a importância da qualidade dos dados, do planejamento estratégico e de intervenções inovadoras. Essas iniciativas reforçam a necessidade de uma abordagem coordenada e multissetorial para alcançar a eliminação da TB como problema de saúde pública.


O Papel da Qualidade dos Dados no Controle da TB

Em "Rotinas de qualificação da informação para o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) nos municípios prioritários para tuberculose", os autores ressaltam a importância crítica da qualidade dos dados para orientar as ações de saúde pública. Dados precisos e confiáveis são essenciais para compreender a epidemiologia da TB, identificar lacunas na assistência e avaliar a eficácia das intervenções. As rotinas estruturadas descritas—como o monitoramento do encerramento de casos, a análise da completude dos dados e a correção de inconsistências—são fundamentais para garantir que o SINAN forneça informações fidedignas. Sem dados robustos, os esforços para controlar a TB são prejudicados, tornando essas rotinas esseciais essenciais para uma vigilância eficaz.


Planejamento Estratégico e Governança


Quando se trata de "Planejamento para Controle e Eliminação da Tuberculose no Estado do Rio de Janeiro", os autores descrevem uma estratégia abrangente para eliminar a TB. Essa iniciativa, apoiada por uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Secretaria de Estado de Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde, concentra-se em 16 municípios prioritários e unidades prisionais do ERJ. A ênfase do plano em governança, direcionamento estratégico e monitoramento reflete o reconhecimento de que o progresso sustentável exige mais do que recursos financeiros—requer liderança forte, objetivos claros e avaliação contínua. Ao integrar atenção à saúde, proteção social e inovação, esse plano representa uma abordagem integral para enfrentar os determinantes sociais da TB. O estudo reforça que a governança, o monitoramento e a comunicação são eixos centrais para o sucesso da estratégia, e que a cooperação técnica pode ser um modelo replicável para outros estados.


Enfrentando Populações Vulneráveis

Vários artigos destacam o impacto desproporcional da TB entre populações vulnerabilizadas. Entre os principais grupos vulnerabilizados, destacam-se pessoas em situação de pobreza, de uso de substâncias psicoativas, população carcerária, indivíduos em situação de rua e aqueles vivendo com HIV. Por exemplo, em "Tuberculose na população privada de liberdade no Estado do Rio de Janeiro", os aurores revelam que mais de 98% dos casos de TB nas prisões ocorrem entre homens, predominantemente pardos e com baixa escolaridade. Da mesma forma, "Casos de tuberculose, cura e interrupção de tratamento na População em Situação de Rua" documenta taxas alarmantes de interrupção do tratamento entre pessoas em situação de rua. Assim como entre usuários de substâncias psicoativas, como demonstrado em “Interrupção de Tratamento de Tuberculose em Usuários de Substâncias Psicoativas, no Estado do Rio de Janeiro, de 2016 a 2022”. Esses achados reforçam a necessidade de intervenções direcionadas que abordem os desafios únicos enfrentados por essas populações, como estigma, falta de acesso a serviços de saúde e marginalização social, o que contribui para a perpetuação da transmissão.


O artigo "Infecção Latente por tuberculose no Estado do Rio de Janeiro" destaca a importância de abordar a infecção latente por TB, especialmente entre pessoas vivendo com HIV, devido à imunossupressão, e a coinfecção está associada a piores desfechos clínicos, incluindo maior mortalidade. O artigo apresenta um aumento significativo nos tratamentos para infecção latente—um crescimento de 326% entre 2019 e 2022— mostrando progresso, mas a alta taxa de interrupção do tratamento nesse grupo evidencia a necessidade de melhores sistemas de apoio.


Intervenções Inovadoras e Apoio Social


Estratégias inovadoras, como a inclusão de assistentes sociais nas equipes de cuidado à TB, presente no "Relato de Experiência da Inclusão da(o) Assistente Social no Fluxo de Atendimento dos Usuários com Tuberculose", demonstram o potencial das abordagens multidisciplinares para enfrentar os determinantes sociais da doença. Ao identificar e mitigar riscos de interrupção do tratamento, essas intervenções podem melhorar a adesão e os resultados.

Outra iniciativa promissora é a introdução do programa "Auxílio Alimentação" . Ao fornecer assistência alimentar a pacientes com TB, o programa aborda uma barreira crítica para a adesão ao tratamento: a insegurança alimentar. Essa intervenção, aliada ao desenvolvimento de um sistema de monitoramento, exemplifica como o apoio social pode ser integrado aos esforços de controle da TB.


O Poder da Colaboração


Por fim, o artigo "Gestão Pública e Sociedade Civil no enfrentamento à Tuberculose" destaca a importância da colaboração entre a gestão pública e a sociedade civil. O Fórum Tuberculose do Estado do Rio de Janeiro tem desempenhado um papel fundamental na defesa do controle da TB, demonstrando que o progresso sustentável requer a participação ativa de todos os atores envolvidos. Esse modelo de parceria deve de servir como exemplo para outros estados e países que enfrentam desafios semelhantes.


Um Chamado à Ação


O combate à TB no Rio de Janeiro está longe de terminar, mas as iniciativas descritas nestes artigos fornecem um roteiro para o progresso. Para alcançar a eliminação da TB, é essencial priorizar a qualidade dos dados, investir em intervenções inovadoras e enfrentar os determinantes sociais da saúde. Igualmente importante é a necessidade de compromisso político sustentado, governança robusta e engajamento ativo da sociedade civil.


Ao avançarmos, devemos lembrar que a TB não é apenas uma questão médica— é uma questão social que exige uma resposta coletiva. Somente trabalhando juntos, podemos garantir que ninguém seja deixado para trás no combate a essa doença antiga, porém persistente. O momento de agir é agora. Vamos aproveitar essa oportunidade para construir um futuro mais saudável e equitativo para todos.

A edição especial da REPIS 2025 reafirma a necessidade de abordagens interdisciplinares e estratégias inovadoras para o controle da TB. Os estudos aqui reunidos demonstram avanços significativos, mas também evidenciam que o sucesso da eliminação da TB como problema de saúde pública dependerá da continuidade dos investimentos, do fortalecimento da governança e da articulação intersetorial e da proteção social.


Que este número especial possa contribuir para o debate e para a construção de políticas públicas mais eficazes e sustentáveis nos desafios persistentes da luta pela dissipação da TB no Rio de Janeiro e no Brasil.


Boa leitura!


Luciane de Souza Velasque Editora Científica da REPIS

Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ)